Sem ginecologista, sem curativos e com medicamentos em falta; Secretaria da Saúde diz que problemas estão sendo resolvidos (Foto: Paulo Rossi - DP)

Desde domingo o mecânico Juliano Barcelos, 22, ostenta um grande ferimento na cabeça. Após cair um tombo e abrir um corte pouco acima do olho esquerdo, teve que recorrer ao único posto de saúde do Laranjal para tratar e fazer as trocas diárias do curativo. E está conseguindo isso apenas porque ele mesmo comprou o material que deveria ser fornecido. Há duas semanas sem equipamento de esterilização funcionando na unidade, a equipe não está substituindo ou fazendo novas bandagens.

Assim como Juliano, todos os outros moradores da praia estão dando de cara com um cartaz logo na entrada da Unidade Básica de Saúde (UBS) que aponta o defeito na autoclave. No local, os funcionários preferem não falar sobre o assunto. No entanto, por telefone dão alternativas a quem procura informação. “Só trazendo o material de curativo, pois a gente não tem como esterilizar nada. Se não tiver como comprar, só indo no Barro Duro.”

A opção pelo posto do bairro vizinho, distante mais de cinco quilômetros, requer dois ônibus para ida e dois para volta e, consequentemente, perda de tempo e mais dinheiro. O que, para a coordenadora do grupo SOS Laranjal, prejudica principalmente quem mais precisa do serviço público. “Há muitos moradores com dinheiro aqui na praia, mas também muita gente que só tem o posto para se socorrer”, reclama Sheila Melgarejo.

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) nega que o problema com a autoclave seja impeditivo para a realização de curativos. Ana Costa afirma que a unidade conta com dois equipamentos do tipo, um para uso do material de enfermagem e outro destinado ao atendimento odontológico. Segundo ela, este último poderia ser usado enquanto o outro não é consertado e entregue, o que está previsto para acontecer até segunda. “Não há motivo para não fazer curativos ou atender na odonto. É uma questão de organização da rotina. Vamos interceder junto à equipe”, explica.

Falta de medicamentos
Moradora das proximidades do posto de saúde, a vendedora Gislaine Vilela, 57, queixa-se ainda de outra falha grave: a ausência de remédios usados no tratamento de doenças cardiovasculares. “Estamos sem AAS e Sinvastatina no posto e não sabemos o porquê. São coisas que sempre tivemos acesso diretamente aqui”, diz, apontando ainda que das três especialidades médicas que haviam no local, uma (ginecologia) foi retirada recentemente, restando apenas pediatria e odontologia.

Outra reclamação apresentada em reuniões feitas entre comunidade e trabalhadores da UBS é a falta de pagamento a uma das médicas, contratada há pouco mais de dois meses para auxiliar durante o verão, quando cresce a demanda por atendimento. A profissional está há dois meses sem salário por problemas na documentação.

Ana Costa indica que a falta de medicamentos está sendo resolvida, visto que a Sinvastatina já foi adquirida pelo município e está em processo de entrega, enquanto que a AAS pode ser acessada através da Farmácia Popular. Com relação à ausência de ginecologista na UBS, a secretária justifica com uma recomendação do Ministério da Saúde que dispensa a oferta de especialistas em postos com Estratégia Saúde da Família (ESF), como o do Laranjal. “Caso o médico tenha necessidade poderá referenciar, mas a maioria das necessidades são atendidas pelos médicos de ESF, que inclusive foram capacitados pelo ministério.”

Sobre o salário atrasado de uma das médicas,  a SMS afirma que a profissional não entregou sua efetividade a tempo de receber o pagamento junto com os demais servidores e que o problema deverá ser resolvido com uma folha suplementar.